Adolescência, da Netflix, já é a minissérie do ano

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 Dividida em quatro capítulos, ela se tornou fenômeno mundial dias após seu lançamento

A minissérie “Adolescência” estreou na Netflix esse mês e rapidamente virou um fenômeno mundial. Tendo como tema central o assassinato de uma jovem de 13 anos, que supostamente foi cometido por um colega de escola, da mesma idade, a série é muito mais que mais uma de “investigação criminal”. Já no primeiro capítulo, percebemos que se trata de uma trama muito mais complexa deixando para trás o clichê de mais do mesmo.

Após a família do jovem acusado Jamie receber a polícia em sua casa de forma nada amigável, temas atuais fazem com que o que o telespectador fique em suspense com o que se encaminha para algo muito mais complexo, e triste. O tema central deixa de ser apenas o crime e se torna também o do desafio dos pais de lidarem com jovens na transição entre a infância e a adolescência. O bullyng, que tem ganhado espaço no debate público, principalmente entre alunos e jovens de maneira geral também tem forte destaque.

“Adolescência” traz ainda a influência das redes sociais no desenvolvimento desses jovens com o uso categórico de termos do universo on-line que têm feito cada vez mais parte do mundo masculino de propagação de ódio. Vale o destaque para a maneira como são colocados na série os grupos conhecidos como Incel e RedPill. Neles, homens recrutam garotos e espalham misoginia e ódio a mulheres por diferentes motivos como, segundo os mesmos, rejeição, humilhação e independência da “necessidade por uma figura feminina” em sua vida.

Ambientada em Londres, a série é toda filmada no estilo plano sequência (quando não há cortes entre as cenas), e por se tratar de uma minissérie com apenas 4 episódios, ela não perde tempo com dinamismo desde o começo. O envolvimento dos adolescentes nas redes sociais com grupos de ódio expõe não apenas a influência para o mundo externo, mas também dentro da sua própria família, criando barreiras entre pai e filho, como a falta de confiança e sinceridade, o que é muito bem retratado entre Jamie e seu pai e até em relações secundárias como a do Policial responsável pelo caso e seu filho.

Conforme a Policia avança na investigação em busca da arma do crime, um submundo que parece estar longe dos olhos da sociedade “off-line” começa a se revelar com linguagens e códigos próprios nas páginas de todos adolescentes envolvidos.

A trama ganha mais um tempero quando a psicóloga responsável pelo laudo de Jamie entra em cena no terceiro episódio. Com uma atuação brilhante do ator mirim Owen Cooper, que aliás fez sua estreia em “Adolescência” (por incrível que pareça), vemos um diálogo poderoso que expõe um mundo “paralelo” dos adolescentes nas redes sociais e que expõe brutalmente o uso maléfico dos já citados termos Incel e Redpill.

“Adolescência” deixa claro que uma geração está crescendo sobre a influência de grupos escondidos na web que instigam ódio e que podem levar ao limite da violência, inclusive ao feminicidio. Jamie descreve de maneira magistral e inteligente esse mundo, e o roteiro faz com que o telespectador clame por justiça, ao mesmo tempo que nos desperta para o quanto o jovem foi afetado por grupos de ódio na web. Assim é construído no imaginário a linha tênue entre a criança influenciada e o adolescente já capaz de disseminar suas próprias atitudes.

Com um desfecho brilhante e emocionante, acompanhamos uma família destruída e que em um dado momento percebe que perdeu o controle sobre o filho que chegava da escola e ficava no computador “apenas jogando seus jogos”. Esse jovem sofreu durante muito tempo por influência de grupos que se utilizam e se escondem no mundo on-line para propagar ódio, como se fossem superiores. E é aí que a série deixa seu recado para a sociedade sobre a importância de controle das redes sociais, ainda mais em cabeças e mentes em formação.

“Adolescência” se tornou um fenômeno mundial assim como em 2024 a minissérie “Bebe Renna”, que coincidentemente também tratava de temas atuais como stalker e redes sociais. Entretanto, a nova queridinha dos streamers atinge um público ainda maior por trazer como tema central a criação dos filhos, e colocar o dedo na feriada de muitas famílias, independentemente de cor, religião, etnia ou classe social. O sucesso repentino é um sinal de uma dura realidade que expõe a fragilidade nas relações familiares e a dificuldade de pais e/ou responsáveis em acompanhar e mostrar aos jovens os perigos pelos quais estão expostos ao navegar na web, especialmente em redes sociais. Esse debate é necessário e deve acontecer no mundo todo com a regulação das redes sociais.

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